sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Para pensar

Um mestre sufi contava sempre uma parábola no final de cada aula, mas os alunos nem sempre entendiam o seu sentido…
- Mestre - disse um deles, certo dia - Tu contas-nos contos, mas nunca nos explicas o que significam…
- As minhas desculpas - disse o mestre - Como compensação, deixa-me que te ofereça um belo pêssego.
-Obrigada, mestre - disse o discípulo, comovido.
-Mais ainda: como prova do meu afecto, queria descascar-te o pêssego. Permites que o faça?
-Sim, muito obrigada - disse o discípulo.
-E já que tenho a faca na mão, gostarias que eu cortasse o pêssego em pedaços para que te seja mais fácil comê-lo?
-Sim, mas não quero abusar da tua generosidade, mestre…
-Não é um abuso; sou eu que me estou a oferecer. Quero apenas agradar-te. Permite-me que mastigue o pêssego antes de to oferecer…
-Não, mestre! Não gostaria que fizesse isso! - queixou-se o discípulo, surpreendido.
O mestre fez uma pausa e disse:
- Percebes agora que se eu vos explicasse o sentido de cada conto seria como dar-vos a comer fruta mastigada."

in Contos para pensar, Jorge Bucay

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Duas boas propostas de leitura

Depois de "Histórias que contei aos meus filhos" (seis histórias que Fernando Nobre criou ao longo de mais de vinte anos para contar aos seus quatros filhos e cujos relatos assentam em valores como a partilha das riquezas, meio ambiente, educação e liderança), o Presidente da AMI lançou no dia 23 de Novembro, na FNAC do Chiado, "Mais Histórias que contei aos Meus Filhos" .


Também de Fernando Nobre, será lançado no próximo dia 3 de Dezembro, na Sala Algarve da Sociedade de Geografia de Lisboa, às 18h30, o livro "Humanidade - Despertar para a Cidadania Global Solidária" - Temas e Debates.

PNL - Novo Comissário

Citando o Público Última Hora:
"Fernando Pinto do Amaral é o novo comissário do Plano Nacional de Leitura (PNL), sucedendo a Isabel Alçada, actual ministra da Educação.
O escritor e professor da Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa já colaborava com o PNL como coordenador do Concurso Nacional de Leitura.
Pinto do Amaral tem feito parte de vários júris de prémios literários, tem comissariado alguns eventos dedicados à literatura como os “100 Livros do Século” e colaborado como crítico literário em diversas publicações, incluindo o PÚBLICO.
Traduziu As Flores do Mal, de Baudelaire, ganhando o Prémio do Pen Club e o Prémio da Associação Portuguesa de Tradutores; Poemas Saturnianos, de Verlaine; e toda a poesia de Jorge Luís Borges.
Poeta e escritor premiado publicou este ano o romance O Segredo de Leonardo Volpi e para as crianças escreveu recentemente A Minha Primeira Sophia sobre Sophia de Mello Breyner Andresen."

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

A intemporalidade de Eça de Queirós

A 25 de Novembro de 1845 nascia José Maria Eça de Queirós, um dos mais ilustres escritores portugueses. Do autor de O mistério da estrada de Sintra , O Crime do Padre Amaro, A tragédia da rua das flores, O Primo Basílio, O mandarim , A relíquia, Os Maias , Uma campanha alegre, O tesouro, A Aia, Adão e Eva no paraíso, A cidade e as serras , entre muitas outras obras suas, deixo-vos este texto que, volvidos tantos anos , se mantém actual.
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Todos nós hoje nos desabituamos, ou antes nos desembaraçamos alegremente, do penoso trabalho de verificar. É com impressões fluidas que formamos as nossas maciças conclusões. Para julgar em Política o facto mais complexo, largamente nos contentamos com um boato, mal escutado a uma esquina, numa manhã de vento. Para apreciar em Literatura o livro mais profundo, apenas nos basta folhear aqui e além uma página. Principalmente para condenar, a nossa ligeireza é fulminante. Com que soberana facilidade declaramos - «Este é uma besta! Aquele é um maroto!» Para proclamar - «É um génio!» ou «É um santo!» oferecemos uma resistência mais considerada. Mas ainda assim, quando uma boa digestão ou a macia luz dum céu de Maio nos inclinam à benevolência, também concedemos bizarramente, e só com lançar um olhar distraído sobre o eleito, a coroa ou a auréola, e aí empurramos para a popularidade um maganão enfeitado de louros ou nimbado de raios. Assim passamos o nosso bendito dia a estampar rótulos definitivos no dorso dos homens e das coisas. Não há acção individual ou colectiva, personalidade ou obra humana, sobre que não estejamos prontos a promulgar rotundamente uma opinião bojuda E a opinião tem sempre, e apenas, por base aquele pequenino lado do facto, do homem, da obra, que perpassou num relance ante os nossos olhos escorregadios e fortuitos. Por um gesto julgamos um carácter, por um carácter julgamos um povo.

in 'A Correspondência de Fradique Mendes'

Não substituindo (nunca!) o prazer sentido ao folhear o livro, aqui fica o endereço para acederem a alguns dos ebooks de Eça:

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Quando o sonho comanda a vida

António Gedeão (Rómulo Vasco da Gama de Carvalho), nasceu em Lisboa em 1906. Criança precoce, aos 5 anos escreveu os seus primeiros poemas e aos 10 decidiu completar "Os Lusíadas" de Camões. A par desta inclinação para as letras, ao entrar para o liceu Gil Vicente, tomou contacto com as ciências e foi aí que despertou nele um novo interesse.
Em 1931, licenciou se em Ciências Físico- Químicas pela Faculdade de Ciências da Universidade do Porto e em 1932 conclui o curso de Ciências Pedagógicas na Faculdade de Letras do Porto, adivinhando-se assim qual seria a sua actividade principal daí durante 40 anos: professor e pedagogo. Ensinar era para ele uma paixão e uma dedicação.
Apesar da intensa actividade científica, Rómulo de Carvalho nunca esqueceu a arte das palavras e continuou sempre a escrever poesia. Nunca tentou publicá-la por considerar que não tinha qualidade. Em 1956, após ter participado num concurso de poesia de que tomou conhecimento no jornal, publicou, aos 50 anos, o primeiro livro de poemas "Movimento Perpétuo" com o pseudónimo António Gedeão. Nos seus poemas há uma simbiose perfeita entre a ciência e a poesia, a vida e o sonho, a lucidez e a esperança
A sua poesia marcou toda uma geração que, reprimida por um regime ditatorial e atormentada por uma guerra, cujo fim não se adivinhava, se sentia profundamente tocada pelo poeta que acreditava que, através do sonho, era possível encontrar o caminho para a liberdade.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

O Meu Primeiro Miguel Torga

"Miguel Torga (1907-1995) foi um admirável escritor da literatura portuguesa, com uma maneira única de contar, de falar de si e de captar, em verso e em prosa, os pequenos e grandes momentos da vida. E a sua foi uma vida invulgar. Neste livro, a escrita de João Pedro Mésseder e as imagens de Inês Oliveira dão a conhecer o fascínio que Torga sentia pelas palavras, pelo país, pelos bichos, pelas crianças e pelos seus semelhantes. E também pelo "reino maravilhoso" onde nasceu."

Com texto de João Pedro Mésseder e ilustrações de Inês Oliveira, O Meu Primeiro Miguel Torga vem juntar-se à colecção da Dom Quixote iniciada em 2005.

quinta-feira, 19 de novembro de 2009

Homens "cortados ao meio"

Um texto interessantíssimo de Manuel António Pina, jornalista, poeta e escritor português.

"Sempre gostei de Matemática. Nos primeiros anos após a instrução primária, a Matemática, juntamente com o Português, era a minha disciplina preferida, e ambas aquelas onde obtinha sempre melhores classificações. Estou convencido de que o meu amor pela Matemática e pelo Português (e, depois, no Complementar — hoje 10.º e 11.º anos — pela Literatura) se deveu principalmente aos professores que tive.
Julgo que seja uma experiência comum, a de, enquanto estudantes, amarmos as disciplinas de cujos professores gostamos. É minha convicção, fundada na experiência, que o amor é o maior e mais generoso de todos os veículos de comunicação.
...
Podia dizer — e digo — que a Matemática é uma disciplina, se não uma aventura, emocionante, mas todas as áreas do saber o são, muito particularmente hoje, em que é notório que todas, em especial as chamadas Ciências da Natureza, vivem (sempre assim aconteceu, mas hoje acontece talvez de forma mais arrebatadora, porque mais mediatizada) em «estado de fronteira», forçando permanentemente os seus limites, num movimento em espiral para dentro (muitas vezes para dentro umas das outras) no sentido da simplificação e da convergência, o que, no entanto, conduz a problemas cada vez mais difíceis.
...
É de um desastre que falamos quando falamos das dificuldades de relacionamento dos nossos jovens com a linguagem matemática (o mesmo que acontece com idêntica dificuldade com a Língua, que tem raízes na exclusão da "linguagem da Língua", o Latim, dos programas escolares).
Um amigo meu, professor de uma Faculdade de Arquitectura, gasta habitualmente as primeiras aulas do curso a… ensinar a tabuada aos seus alunos e a combater o estúpido preconceito que o Secundário neles instilou contra a memorização, como se o conhecimento fosse possível sem memorização.
Sendo embora um observador distante, e apenas curioso, do fenómeno do ensino, julgo que, por razões de bom senso, tanto a Matemática como o Latim, como também a Filosofia, deveriam fazer obrigatoriamente parte dos curricula escolares durante todo o Secundário.
Ora, há uns anos (porque o facilitismo "simplex" não é invenção dos actuais responsáveis do Ministério da Educação), até a Filosofia se quis excluir, ou limitar a uma situação residual, do ensino. O resultado está à vista: estamos a construir uma sociedade de homens, como diz Drummond, «cortados ao meio». "
In jornal Público de 24 de Junho de 2009

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

14 de Novembro - Dia Mundial da Diabetes

No dia 14 de Novembro, Dia Mundial da Diabetes, a Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) e a Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) irão promover diversas iniciativas centradas no círculo azul da diabetes, entre as quais a iluminação de azul de edifícios e monumentos, uma acção de rastreio, sensibilização e sessões de exercício físico na Praça da Figueira e o III Fórum Nacional da Diabetes, como forma de alertar e sensibilizar para esta doença crónica.
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Sabiam que:
-em Portugal, há mais de 900 mil diabéticos?
-existem mais de 250 milhões de diabéticos em todo o mundo?
-a diabetes é a quarta causa de morte na maioria dos países desenvolvidos?
-a cada 10 segundos morre uma pessoa vítima da doença?

Prevê-se que os índices de mortalidade aumentem 25% na próxima década, caso não sejam tomadas as medidas necessárias para travar o avanço da epidemia, pondo em causa a actual esperança média de vida. A diabetes tem graves implicações a nível cardiovascular, renal, de amputações e/ou cegueira.
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No dia 14 de Novembro, no jogo em que Portugal irá defrontar a congénere da Bósnia-Herzegovina, no Estádio da Luz, em Lisboa, serão exibidas mensagens alusivas ao Dia Mundial da Diabetes, ao Círculo Azul e ao programa internacional “Life for a Child”, da Federação Internacional da Diabetes (IDF).
Nas lonas à volta do campo, assim como nos ecrãs do estádio antes do início do jogo e no intervalo poderão ser vistas mensagens como “Jogue à Defesa. Controle a Diabetes”, e um excerto do documentário «Life for a Child» que acompanha a vida de crianças com Diabetes tipo 1 entre as montanhas e as ruas do Nepal, um dos países mais pobres do mundo.

Afinal, os heróis são iguaizinhos a nós!

São Princesas, Príncipes, Fadas e Piratas com Problemas de Ana Cristina Leonardo, Ana Luísa Amaral, Gonçalo M. Tavares, João Pedro Mésseder, Rita Saldanha e Rui Zink.
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Afinal, os heróis são iguaizinhos a ti. Têm sonhos, projectos, e monstros debaixo da cama. Um dia levantam-se e tornam-se grandes lutadores!
Este livro, com histórias de piratas, fadas, princesas e príncipes com problemas, foi feito para ti.
Queres lê-lo? Para te tornares um herói nas aventuras deles, e nas tuas próprias aventuras?

"É com os problemas que as histórias avançam - que a tua história avança! Por isso quisemos pôr estes heróis com algumas dificuldades, mas atenção: eles precisam de ti para continuar! Precisam que tu leias e os oiças nas suas aventuras. Já pensaste que um livro só existe porque há pessoas como tu, que o lêem?"
Pedro Sena-Lino (in Nota Introdutória)

domingo, 8 de novembro de 2009

A queda do Muro de Berlim

Milhares de pessoas visitaram hoje a Porta de Brandeburgo para ver o gigantesco e simbólico dominó com mil "pedras" que será derrubado na segunda-feira para lembrar a queda do Muro de Berlim, que ocorreu há 20 anos. Uma das mil peças (estas ocupam uma extensão de 1,5 quilómetro, ao longo do trajecto onde ficava o muro, no centro histórico de Berlim) foi concebida pelos alunos da escola Luso-Alemã de Berlim e será derrubada na segunda-feira pelo presidente da Comissão Europeia, José Manuel Durão Barroso.


Cecília Meireles

Cecília Meireles nasceu a 7 de Novembro de 1901, no Rio de Janeiro, e faleceu a 9 de Novembro de 1964, também no Rio de Janeiro. Foi poeta, professora, jornalista e cronista.
A primeira biblioteca infantil do Brasil foi fundada por esta mulher extraordinária que disse:
"Em toda a vida, nunca me esforcei por ganhar nem me espantei por perder. A noção ou o sentimento da transitoriedade de tudo é o fundamento mesmo da minha personalidade. Minha infância de menina sozinha deu-me duas coisas que parecem negativas, e foram sempre positivas para mim: silêncio e solidão. Essa foi sempre a área de minha vida. Área mágica, onde os caleidoscópios inventaram fabulosos mundos geométricos, onde os relógios revelaram o segredo do seu mecanismo, e as bonecas o jogo do seu olhar. Mais tarde, foi nessa área que os livros se abriram e deixaram sair suas realidades e seus sonhos, em combinação tão harmoniosa que até hoje não compreendo como se possa estabelecer uma separação entre esses dois tempos de vida, unidos como os fios de um pano.”
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Considerada por muitos como uma das maiores poetisas da Língua Portuguesa, foi-lhe atribuído em 1993 o prémio Camões.
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De Cecília Meireles:
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Máquina Breve
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O pequeno vaga-lume
com sua verde lanterna,
que passava pela sombra
inquietando a flor e a treva
— meteoro da noite, humilde,
dos horizontes da relva;
o pequeno vaga-lume,
queimada a sua lanterna,
jaz carbonizado e triste
e qualquer brisa o carrega:
mortalha de exíguas franjas
que foi seu corpo de festa.
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Parecia uma esmeralda
e é um ponto negro na pedra.
Foi luz alada,
pequena estrela em rápida seta.
Quebrou-se a máquina breve
na precipitada queda.
E o maior sábio do mundo
sabe que não a conserta.
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4º Motivo da Rosa
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Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
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Rosas verás, só de cinzas franzidas,
mortas, intactas pelo teu jardim.
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Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
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E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

O Livro de Manuel e Camila - Diálogos sobre Ética

Os protagonistas desta obra de Ana Maria Vicuña, Ernst Tugendhat e Celso López, são jovens de 15 anos que mantêm acesas discussões sobre temáticas como a morte, a mentira, a traição, o roubo, ... indo um pouco mais além dos habituais problemas dos adolescentes (borbulhas, amizades, namoricos, discussões com a famíla, ...)
Com um vasto alcance etário, constitui-se como um primeiro passo para a compreensão de uma nova dimensão do ser humano e para a necessária iniciação às questões éticas. Os autores privilegiam as intuições espontâneas que inquietam os adolescentes, abordando-se duas atitudes pedagógicas: uma, autoritária, que fornece respostas prontas elaboradas por grandes mestres e outra, que apela à criatividade pessoal, deixando a consciência percorrer livremente o seu caminho, umas vezes achando respostas, outras não...

Podem ler uma entrevista com Ernst Tugendhat, um dos autores, em:
http://www.sinpro-rs.org.br/extraclasse/jun03/entrevista.htm

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Já esquecemos...


Entre amigos, entre colegas, ... entre seres humanos!

domingo, 1 de novembro de 2009

Morre lentamente...

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos, quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante. Morre lentamente quem abandona um projecto antes de iniciá-lo, quem não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior do que o simples facto de respirar. Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade.
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Pablo Neruda