sábado, 26 de setembro de 2009

O Senhor Kraus

O Senhor Kraus, de Gonçalo Tavares, é um jornalista que é convidado para fazer uma crónica sobre política. Para além da acidez e ironia com que vai comentando os diversos acontecimentos políticos, o senhor Kraus, nas suas crónicas, inventa três personagens: o Chefe e os dois Auxiliares. Episódios e diálogos que satirizam os tiques universais dos políticos.

«Uma enorme comitiva de economistas entrou nos aposentos centrais. Traziam um relatório gigante. Era o diagnóstico; o estado da economia do país ali estava, ao pormenor. Três meses de trabalho envolvendo mais de 32 mil economistas. Bem remunerados, mas era merecido: o relatório tinha mais de seiscentas páginas. E um índice. Foi no índice que o Chefe pegou.
- Isto ajuda muito. Facilita a consulta – disse o Chefe, surpreendido.
- Ajuda muito – concordou o Presidente da Comitiva dos Economistas. – O Chefe vê aqui o tema abordado e logo depois, uns espacinhos mais à frente, surge a página.
- Excelente ideia!! – exclamou o Chefe.
- Já tem sido utilizada noutros trabalhos de outras pessoas; mesmo fora da política. E até noutros países. Quando os relatórios são muito grandes a indicação das páginas onde cada tema é aprofundado permite que quem consulte o documento não perca muito tempo até encontrar o assunto que lhe interessa.
O Chefe estava fascinado. Aquela questão do índice. Que ideia!! Estava bem rodeado, sem dúvida. Estes economistas!!»

E mais umas linhas bem a propósito destes dias...
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"Depois de uma campanha eleitoral animada, a grande vantagem de qualquer eleição democrática é a de o povo sair, finalmente, da sala de estar dos políticos. É uma sensação de alívio que alguns eleitos descrevem como semelhante ao momento em que uma dor intensa, por qualquer razão obscura, termina. (...) Depois de qualquer eleição a sensação dos políticos - quer tenham perdido quer tenham ganho - é a de que o povo mais profundo acaba de entrar todo num comboio, dirigindo-se, compactamente, para uma terra distante. Esse povo voltará apenas, no mesmo comboio, nas semanas que antecedem a eleição seguinte. Esse intervalo temporal é indispensável para que o político tenha tempo para transformar, delicadamente, o ódio ou a indiferença em nova paixão genuína. "

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