sexta-feira, 2 de abril de 2010

2 de Abril - Dia Internacional do Livro Infantil

Os livros são os meus olhos mágicos
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Há muito, muito tempo, vivia na Índia antiga um rapaz chamado Kapil. Além de gostar muito de ler, era extremamente curioso. Tinha a cabeça cheia de perguntas. Por que motivo o Sol era redondo e por que mudava a Lua de forma? Por que cresciam tanto as árvores? E por que razão as estrelas não caíam do céu? Kapil procurava as respostas em livros de folha de palmeira escritos por homens sábios. E lia todos os livros que encontrava. Ora, um dia, estava Kapil ocupado a ler quando a mãe lhe deu um embrulho e disse:
- Arruma o livro e leva esta comida ao teu pai. Já deve estar cheio de fome.
Kapil levantou-se com o livro na mão e fez-se ao caminho. Enquanto percorria o duro e acidentado trilho que atravessava a floresta, não parava de ler. De súbito, o seu pé bateu numa pedra. Tropeçou e caiu. E logo um dedo começou a sangrar. Kapil ergueu-se do chão e continuou a caminhar e a ler, com os olhos colados ao livro. Não tardou a bater noutra pedra e, uma vez mais, estatelou-se. Desta feita doeu-lhe mais, mas o texto escrito em folha de palmeira fê-lo esquecer as feridas. De repente, um clarão surgiu e ouviu-se um riso melodioso. Kapil levantou os olhos e deparou com uma formosa senhora, vestindo um sari branco. Ela sorria e uma auréola de luz rodeava-lhe a cabeça. Estava sentada num cisne branco e gracioso. Numa das mãos trazia um luminoso rolo de pergaminho. Com outras duas segurava um instrumento de cordas chamado veena. Estendeu a quarta mão para o rapaz e disse:
-Meu filho, estou impressionada com a tua sede de conhecimento. Quero dar-te uma recompensa. Qual é o teu maior desejo?
Kapil pestanejou de espanto. Diante dele encontrava-se Saraswati, a Deusa do Estudo. No instante seguinte, o rapaz cruzou as mãos, fez uma vénia e murmurou:
- Por favor, Deusa, dá-me um segundo par de olhos para os pés, para que eu possa ler enquanto caminho.
-Assim seja!
E a Deusa abençoou-o. Tocou na cabeça de Kapil e a seguir desapareceu entre as nuvens. Kapil olhou para baixo. Um segundo par de olhos brilhava-lhe nos pés e ele deu um salto de alegria. Logo a seguir, fixou os olhos no livro e desatou a caminhar pela floresta, apenas conduzido pelos seus pés. Graças ao amor pelos livros, Kapil cresceu e tornou-se um dos sábios mais ilustres da Índia. Em toda a parte era conhecido pela sua imensa sabedoria. Também lhe puseram outro nome, Chakshupad, que em sânscrito significa "aquele cujos pés têm olhos".
Saraswati é a deusa do estudo e do saber, da música e da fala. Esta é uma antiga lenda indiana sobre um rapaz que descobriu como o saber é transmitido pelas palavras, essas palavras que os homens sábios escreviam em manuscritos de folhas de palmeira. Os livros são os nossos olhos mágicos. Dão-nos informação e conhecimentos e servem-nos de guias nos difíceis e acidentados caminhos da vida.


Manorama Jafa, tradução de José António Gomes

Manorama Jafa é escritora e membro destacado da Secção Indiana do International Board on Books for Young People. Preside à fundação Khaas Kitaab, que edita livros especiais, designadamente para crianças com dificuldades. Estes livros abordam valores universais e temas como a paz e a não-violência. Conselheira editorial, é uma autoridade internacional no domínio do livro infantil. Dirige também o projecto de formação da associação de autores e ilustradores para crianças (AWIC). Sob a sua orientação, este projecto realizou livros em oito línguas faladas na Índia (Hindi, Urdu, Bengali, Oriya, Tamil, Telegu, Gujarati e Inglês) que foram distribuídos a numerosas crianças pobres por todo o país. Publicou, entre outros livros infantis, Histórias de Jatak, Um Burro na Ponte, Relógios Biológicos, Chetak e Pratap, Chinu Minu e Gogo, A Senhora Billo e Viagem de Balão..

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