Um novo conceito de biblioteca em Sacavém
O artigo escrito pela jornalista Sandra Pinto na revista VISÃO desta semana dá-nos a conhecer um projecto inovador no âmbito da promoção da leitura.
« Sob o lema Ler por Sacavém, o projecto começou no passado dia 7, e conta com o apoio da Fundação Calouste Gulbenkian e da Junta de Freguesia local.
É uma biblioteca ao ar livre, que dispensa tecto e funcionários e trabalha em regime de self-service. Dentro dos armários (duas estantes que fazem parte do mobiliário urbano) estão livros para crianças, jovens e adultos e, para os adquirir, apenas necessita de se deslocar ao local, fazer deslizar o vidro e seleccionar o título que deseja ler. Outra operação que se espera que complete o ritual é a sua devolução (ou a troca por outro livro), para que outros leitores possam usufruir do mesmo serviço.
Uma ideia simples que visa incentivar e promover os hábitos de leitura dos moradores desta localidade.»
A leitura deste artigo recordou-me a extraordinária intervenção de Galeno Amorim no Congresso Internacional de Promoção da Leitura que decorreu nos dias 22 e 23 de Janeiro e do qual dei aqui um modesto testemunho. Enquanto responsável pelo Observatório do Livro e da Leitura no Brasil, Galeno Amorim deu a conhecer as inúmeras acções que percorrem o país muitas das quais da iniciativa do cidadão comum. Entre as muitas que referiu - a biblioteca do açougue, a biblioteca do mercadinho, a biblioteca da oficina,... -, ficou na memória a Bibliojegue.
O facto de já terem percebido do que se trata não dispensa a leitura do texto abaixo que é inspirador.
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Jegues viram bibliotecas ambulantes
A professora de Português Alda Beraldo encontrou uma forma inusitada de incentivar, a adultos e crianças, o gosto pela leitura e pelo conhecimento. Nos últimos dois anos como formadora na área de educação, ela fez viagens mensais de trabalho para Alto Alegre do Pindaré, no interior do Maranhão. Quanto mais se aproximava do lugar, mais via jegues e babaçus na beira da estrada.
Certa vez, chegou a contar 180 jegues no percurso. Ficou impressionada com tantos animais dessa espécie carregando farinha, mandioca, produções, gente e compra de toda sorte. Foi então que surgiu a idéia: "Por que não carregar livros para a população, se o objetivo do meu trabalho é ensinar as crianças a ler, produzir textos e a se comunicar de forma competente?", pensou. Não demorou muito e nasceu, então, o Jegue Livro, apelidado pelos moradores de "bibliojegue".
Os cinco Jegues Livro do município saem, uma vez por semana, carregando jacás, alimentados por livros da Casa do Professor, um espaço criado em parceria com o Programa Escola que Vale, da Fundação Vale do Rio Doce, Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária e prefeitura da cidade.
O jegue é cedido pelas famílias dos estudantes do município ou dos povoados. Ele parte, geralmente, da porta da escola, conduzido por pais, diretores ou jovens do ensino médio. Param em algum local, em frente de uma casa ou à sombra de uma árvore e os livros são arrumados em uma lona, no chão.
"No início, algumas pessoas convidadas pelos diretores das escolas para participarem do projeto resistiram ao jegue, desvalorizando um patrimônio da cultura local. Depois que os jegues foram sendo lançados, com sucesso, o preconceito se dissipou. Houve um senhor que agradeceu à diretora por ter parado o jegue em frente à casa dele, onde sua neta, inclusive, fez algumas leituras. Nessas horas há até pais que descobrem que seus filhos sabem ler. E muitos, muito bem", conta a educadora.
Alto Alegre do Pindaré tem 32 mil habitantes e alta taxa de analfabetismo. O Jegue Livro vem, aos poucos, atraindo cada vez mais pessoas e encantando-as com o mundo das letras, histórias e fantasias. A biblioteca móvel tem, atualmente, cerca de três mil livros, revistas e informativos: dois mil comprados pelo Programa Escola que Vale e mil comprados pela prefeitura, fato comemorado por todos os moradores da cidade.
Para ela, o Jegue Livro ressignificou o sentido de ser educadora. Professora há 28 anos, ela afirma que aprendeu, com esse projeto, sobre a falta de recursos, o verdadeiro amor pelos livros e a tristeza por não poder comprá-los. "Mais do que estimular a educação e os valores por meio de grandes autores, aprendi muito sobre desigualdade social e, em especial, sobre a vida", emociona-se. Sobre o futuro? "Continuar eterna educadora".
Certa vez, chegou a contar 180 jegues no percurso. Ficou impressionada com tantos animais dessa espécie carregando farinha, mandioca, produções, gente e compra de toda sorte. Foi então que surgiu a idéia: "Por que não carregar livros para a população, se o objetivo do meu trabalho é ensinar as crianças a ler, produzir textos e a se comunicar de forma competente?", pensou. Não demorou muito e nasceu, então, o Jegue Livro, apelidado pelos moradores de "bibliojegue".
Os cinco Jegues Livro do município saem, uma vez por semana, carregando jacás, alimentados por livros da Casa do Professor, um espaço criado em parceria com o Programa Escola que Vale, da Fundação Vale do Rio Doce, Centro de Educação e Documentação para Ação Comunitária e prefeitura da cidade.
O jegue é cedido pelas famílias dos estudantes do município ou dos povoados. Ele parte, geralmente, da porta da escola, conduzido por pais, diretores ou jovens do ensino médio. Param em algum local, em frente de uma casa ou à sombra de uma árvore e os livros são arrumados em uma lona, no chão.
"No início, algumas pessoas convidadas pelos diretores das escolas para participarem do projeto resistiram ao jegue, desvalorizando um patrimônio da cultura local. Depois que os jegues foram sendo lançados, com sucesso, o preconceito se dissipou. Houve um senhor que agradeceu à diretora por ter parado o jegue em frente à casa dele, onde sua neta, inclusive, fez algumas leituras. Nessas horas há até pais que descobrem que seus filhos sabem ler. E muitos, muito bem", conta a educadora.
Alto Alegre do Pindaré tem 32 mil habitantes e alta taxa de analfabetismo. O Jegue Livro vem, aos poucos, atraindo cada vez mais pessoas e encantando-as com o mundo das letras, histórias e fantasias. A biblioteca móvel tem, atualmente, cerca de três mil livros, revistas e informativos: dois mil comprados pelo Programa Escola que Vale e mil comprados pela prefeitura, fato comemorado por todos os moradores da cidade.
Para ela, o Jegue Livro ressignificou o sentido de ser educadora. Professora há 28 anos, ela afirma que aprendeu, com esse projeto, sobre a falta de recursos, o verdadeiro amor pelos livros e a tristeza por não poder comprá-los. "Mais do que estimular a educação e os valores por meio de grandes autores, aprendi muito sobre desigualdade social e, em especial, sobre a vida", emociona-se. Sobre o futuro? "Continuar eterna educadora".
Vanessa Nakasato
E por que não também nós mostrarmos o nosso empenho e criatividade num caminho que já outros iniciaram? E se, a par da BE, nascessem outras bibliotecas? No refeitório? Nas salas de alunos, funcionários, professores? E... no café? E, enquanto aguardamos e desesperamos, por que não no banco, no centro de saúde, ...?
Aqui fica um desafio à espera da vossa adesão! Basta acreditar e ousar!
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